domingo, 28 de março de 2010

História sem Data - Machado de Assis


Cansado aborrecido, entendi que não podia achara a felecidade em parte nenhuma; fui além: acreditei que ela não existia na terra, e preparei-me desde ontem para o grnde3 mergulho na eternidade. Hoje, almocei, fumei um charuto e debru-cei-me à janela. no fim de dez minutos, vipassar um homem bem trajado, fitando a miúso os pés. Conhecia-o de vista; era uma vítima de grandes reveses.mas ia risonho, e contem´lava os pés, digo mal, os sapatos. Este eram novos, de verniz, muito bem talhados, e porvavelmente cosidos a primor. Ele leventava os olhos para as janelas, para pessoas, mas tornava-os aos sapatos, como por umalei de atração, anterior e superior `vontade. Ia alegre: via-se-lhe no rosto a expressão da bem-aventurança. Evidentemente era feliz: e talvez, não tivesse almoçado: talvez não levasse um vintém no bolso. Mas ia feliz, e contemplava as botas.
A felicidqade será um par de botas? Esse homem, tão esbofeteado pela vida, achou finalmente um riso da fortuna. Nada vale nada. Nenhuma preocupação deste século, nenhum problema social ou moral, nem as alegrias da geração que começa.nem as tritezas da que termina, miséria ou guerra de classes, crises da arte e da política, nada vale, para ele, um par de botas. Ele fita-as, ele respira-as, ele reluz com elas, ele calça com elas o chão de um globo que lhe pertence. Daí o rogulho das atitudes, a rigidez dos passos, e um certo ar de tranquilidade olímpica...
Sim,a felicidadeé um par de botas.

domingo, 21 de março de 2010

Mulher ao Espelho


Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loira, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quiz.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

(Cecília Meireles)

domingo, 14 de março de 2010

Rosa de Hiroshima


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hirishima
A rosa hereditária
A rosa radiotiva
Esp[upida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
(Vin´cius de Moraes)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Pinga


HISTÓRIA DA PINGA NO BRASIL

Com relação ao Brasil, segundo a história contada no Museu do Homem do Nordeste:

“Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou!

O que fazer agora? A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.

No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado. Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo. Resultado: o “azedo” do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e se formaram no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome PINGA.
Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de ÁGUA-ARDENTE. Caindo em seus rostos e escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar. E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.”

No século XX, a aguardente, por ser uma bebida de baixo custo, tornou-se a mais popular e consumida pelos brasileiros, chegando a tornar-se um problema sério na área da saúde pública, definindo o vício da embriaguez como uma doença patológica e hereditária.